Ainda nos cabe a nós decidir e escolher

máquina de escrever branca e preta com papel de impressora brancoAntigamente, aquilo que o ser humano não conseguia compreender, ou era uma oportunidade futura para aplicação da razão, ou ficava no domínio do divino. Na era da inteligência artificial (IA) torna-se cada vez mais difícil prever como vai ser o futuro, uma vez que a velocidade e o grau de conhecimento aumenta exponencialmente, de tal forma que o ser humano não consegue acompanhar. Podemos não saber como vai ser, mas cabe-nos a nós, seres humanos, decidir como deve ser o futuro, moldando-o segundo os nossos valores.

Descartes dizia “penso, logo existo”. Se a IA “pensar”, ou estando próxima de o fazer, então quem seremos nós?

“A IA inaugurará um mundo em que as decisões serão tomadas de três formas básicas: por humanos (o que nos é familiar), por máquinas (o que começa a tornar-se familiar), e por genuína colaboração entre humanos e máquinas, e já não com mero auxílio de software convencional (o que não só não é familiar, como é inédito). A IA também está em vias de transformar as máquinas – o que, até hoje, eram ferramentas nossas – em parcerias. A IA receberá de nós cada vez menos instruções específicas sobre como atingir os objetivos que lhes estabelecemos. E cada vez mais estabeleceremos à IA objetivos ambíguos, para acabarmos por perguntar: <Com base nas tuas conclusões, como devemos fazer?>

Esta mudança não é em si mesma nem ameaçadora nem redentora. Mas é diferente a um grau bastante para que possamos julgar provável que venha a alterar as trajetórias das sociedades e o curso da história.”

Recentemente, Elon Musk e outros especialistas pediram uma pausa no desenvolvimento da IA, para que pudessem ser estudados os perigos e capacidades de sistemas como o Chat GPT-4. São os próprios fundadores e criadores de gigantes tecnológicas quem sugerem esta pausa. Na carta aberta que estes especialistas escreveram referem que “Nos últimos meses, os laboratórios de IA travaram uma corrida para desenvolver e implantar mentes digitais cada vez mais poderosas que ninguém – nem mesmo os seus criadores – conseguem entender, prever ou controlar de uma forma confiável. Sistemas poderosos de IA devem ser desenvolvidos apenas quando estamos confiantes de que os seus efeitos serão positivos”.

Sabemos que a IA veio para ficar e que nada será como dantes. Temos duas hipóteses, ou a aceitamos e aprendemos a lidar com ela e a utilizá-la de forma positiva e construtiva, ou a negamos e ficamos à parte daquela que é a (r)evolução dos tempos modernos. Mas não nos podemos esquecer que a IA não é capaz de “refletir” sobre as suas descobertas, nem “sentir” qualquer necessidade moral, pelo que o “significado” da sua ação é uma questão que fica para os humanos. Os humanos têm, portanto, de regulamentar e supervisionar a tecnologia.

Poderes e interesses à parte, por muito que se fale em profissões que irão desaparecer e em substituição dos humanos pelas máquinas em muitos aspectos, há funções que a IA nunca conseguirá assumir, nomeadamente aquelas que impliquem sentir, imaginar, ou colocar-se no lugar do outro. Assim, uma coisa é certa, uma das profissões ou áreas de futuro passará pela reflexão ética e regulamentação da IA, procurando garantir que a mesma não seja utilizada, pelos humanos, para fins negativos e nocivos à humanidade. Ainda nos cabe a nós escolher e decidir o que e como fazer!

 

Referências: “A Era da Inteligência Artificial E o Nosso Futuro Humano”, de Henry Kissinger, Eric Schmidt e Daniel Huttenlocher (2021); https://www.sabado.pt/ciencia—saude/detalhe/elon-musk-e-varios-especialistas-pedem-uma-pausa-na-inteligencia-artificial