Em que é que a política contribui para a nossa felicidade?

Vivemos uma era em que se fala constantemente de felicidade e bem-estar, em que tudo gira à volta do sentir bem e do prazer, do “fast” e do imediato. Não é por acaso que se ouve e lê constantemente sobre propostas, serviços e empresas que promovem o bem-estar e a felicidade. Diria que somos privilegiados (em comparação com as gerações passadas) por haver já tanta informação e tantos estudos que nos explicam a melhor forma de atingir estados de satisfação, relaxamento, equilíbrio, e outros que nos explicam o processo e o porquê de sentirmos esse prazer (ou não) quando vivenciamos determinadas situações ou experienciamos determinadas coisas (a forma como o cérebro e os neurotransmissores funcionam quando se trata de termos prazer, ou dor, motivação ou falta de energia).

Esta busca de prazer e de felicidade aponta para uma certa individualidade, na medida em que cada um procura o que precisa para atingir e vivenciar esse estado de felicidade, de motivação, de energia. Mas não nos podemos esquecer que a felicidade só se atinge quando estamos em relação com os outros. E, por sua vez, dificilmente se experimenta felicidade se não tivermos alguém significativo perto de nós, em relação connosco, seja de forma mais ou menos próxima, mais ou menos profunda, mais ou menos formal.

O “World Happiness Report 2023” refere que uma forma natural de medir o bem-estar das pessoas é perguntar-lhes se estão satisfeitas com as suas vidas, mais do que perceber o que é que as faz sentir essa satisfação, já que essas causas podem ser muito variáveis (em função de características individuais, culturais, por exemplo). Importa ainda fazer mais duas questões: 1) como é que as pessoas podem adquirir as competências necessárias para promover o seu próprio bem-estar a longo prazo (ou sustentável) e 2) que hábitos, instituições e condições materiais produzem uma sociedade onde as pessoas têm um maior bem-estar?

O mesmo relatório refere que a identidade e o carácter de um país é importante, ou seja, as pessoas são dignas de confiança, generosas e apoiam-se mutuamente? Assim como as instituições também são importantes, ou seja, as pessoas têm liberdade para tomar decisões importantes na vida? E as condições materiais de vida são também de considerar, tanto o rendimento como a saúde.

Para atingir a felicidade é então necessário haver “bom carácter” (que a pessoa tenha bons valores e aja em conformidade) e meios externos suficientes, em termos materiais e/ou de suporte. Por outras palavras, e falando especialmente no “bom carácter”, são necessárias determinadas virtudes, como a honestidade, a capacidade de se relacionar com os outros e de estabelecer amizades, a moderação, o sentido de justiça, o exercício de uma cidadania exemplar. Então, para o caminho da felicidade, é necessária toda uma construção ao nível de virtudes individuais e de atitudes e comportamentos pró-sociais. E como se faz isto? Pois… Através de bons hábitos, bons exemplos, boas atitudes em prol dos outros. Trata-se de um caminho que exige muita dedicação e esforço, além de retidão e de (genuinamente) boas intenções.

O “World Happiness Report 2023” refere também que o desenvolvimento de comportamentos virtuosos necessita de um ambiente social e institucional de apoio para que possa resultar numa felicidade generalizada. Além disso, uma sociedade onde o cidadão médio exibe fortes virtudes e um elevado “bom carácter” será também uma sociedade onde o cidadão médio experimenta uma elevada satisfação com a vida. E para percebermos a veracidade nestas palavras, basta considerarmos até que ponto a nossa própria satisfação com a vida depende do comportamento e das atitudes dos outros. Assim, para termos uma sociedade com uma média de satisfação com a vida elevada, precisamos de uma sociedade com cidadãos virtuosos e com instituições que apoiem verdadeiramente. Ao nível da sociedade, estes dois termos andam de mãos dadas, ou seja, instituições eficazes apoiam o desenvolvimento do carácter; cidadãos virtuosos promovem instituições eficazes.

Ora, falando no nosso Portugal e da nossa gente, importa apelar a que todos reflitam sobre tudo o que tem vindo a acontecer na esfera política nos últimos anos. Temos tido demonstrações constantes de desonestidade, falta de transparência, desconsideração e desrespeito. Mas, e vendo aquilo que também de bom se faz no nosso país, não posso deixar de referir que temos um conjunto de exemplos muito positivos ao nível do tecido empresarial português, de competência, motivação, dedicação, atenção ao próximo, procurando cada vez mais contribuir para o bem-estar individual e familiar de cada colaborador.

Para o bem da nossa felicidade, resta apelar a que todos reflitam, em consciência e com sabedoria, quando surgir uma nova oportunidade para escolher quem vai para os lugares de poder e de decisão. É bom que sejam pessoas virtuosas, com “bom carácter”, sentido de missão (há muita casa para arrumar!) e dispostas a pensar no bem comum, não só no aqui e agora, mas também no futuro!

 

Referência: https://worldhappiness.report/ed/2023/