Afinal, o que é o Amor?

O amor pode ser definido como um conjunto de diferentes emoções positivas, como alegria, interesse, contentamento, experienciadas no contexto de relações próximas e seguras, embora também se tenha que admitir que não há amor sem sofrimento. Trata-se de um sentimento composto e complexo que vai muito mais além do simples impulso romântico, envolvendo aspetos psicológicos, neurobiológicos e sociais. Não é então de admirar que o amor não seja aquele estado permanente de entusiasmo, de felicidade, de leveza a que muitas vezes se associa o amor romântico, mas antes uma construção dinâmica, intencional e contínua que requer esforço e dedicação constantes de ambas as partes.

A neurociência explica que o amor não é apenas uma construção social, mas um fenómeno bioquímico complexo. Neurotransmissores como a occitocina, a dopamina, a serotonina, o cortisol determinam a nossa experiência emocional, criando circuitos neuronais que influenciam os nossos vínculos afetivos. Esta compreensão científica não diminui a magia do amor. Pelo contrário, ajuda-nos a apreciar a sua profundidade e complexidade.

O amor é um processo que envolve múltiplas dimensões, não se tratando apenas de atração física ou paixão ardente, mas também de compromisso, cuidado mútuo e intimidade profunda. Queremos estar perto, sentirmo-nos seguros e protegidos e, quando nos separamos, sofremos. Esta vinculação (uma ligação profunda) é essencial para o compromisso e para a satisfação na relação, e um compromisso forte leva a mais intimidade. Por sua vez, o cuidado mútuo é fundamental em todos os tipos de relacionamentos (amizade, família, amor romântico). Significa que estamos atentos às necessidades do outro, com a esperança de que também faça o mesmo por nós. A vinculação e o cuidado reforçam-se mutuamente, fazendo com que nos sintamos cada vez mais próximos. E esta proximidade fortalece a vinculação, que, por sua vez, nos faz cuidar ainda mais do outro.

Aliado a este cuidado, a empatia contribui também para a interdependência relacional. E a confiança e o respeito desempenham igualmente papeis complementares e essenciais na construção de relacionamentos duradouros e satisfatórios, nomeadamente na intimidade, no comprometimento e na vinculação.

Conexão, respeito, confiança e atração são fatores que, embora possam atuar de forma independente, quando um deles é enfraquecido pode afetar negativamente os outros e o amor em si. Da mesma forma, o fortalecimento de um destes fatores influencia positivamente os outros e o amor.

O amor romântico é, então, dinâmico e, para se manter vivo, requer um investimento significativo de ambos os elementos do casal. Vai mudando conforme os acontecimentos, as circunstâncias e o ambiente em que o casal vive, bem como conforme reage a essas mudanças de forma positiva ou negativa. Ou seja, a forma como o casal lida com os desafios que surgem pode fortalecer ou enfraquecer cada um dos componentes do amor. Se estes componentes (atração, conexão, respeito, confiança) faltarem, o amor enfraquece ou até desaparece.

O amor verdadeiro constrói-se nos pequenos gestos do dia-a-dia, pelo que não são os grandes presentes ou as declarações profundas que sustentam um relacionamento, mas sim a gentileza diária, o respeito mútuo e a capacidade de escuta efetiva. É nestas pequenas interações, é quando escolhemos pô-las em prática, que o amor se fortalece e se renova.

Vivemos tempos de grandes revoluções interpessoais e que impactam muito na forma como os casais se relacionam e vivem o amor. A era digital que se impõe atualmente traz desafios inéditos, nomeadamente o facto de a ligação online permanente aproximar e distanciar simultaneamente as pessoas, criando novas dinâmicas nas relações. Enquanto constroem uma vida partilhada, as pessoas procuram manter a sua individualidade, procuram prazer pessoal e satisfazer as suas próprias necessidades. Procuram um equilíbrio entre dependência (relacional) e autonomia e tentam gerir expectativas românticas num mundo de opções aparentemente infinitas. Assim, o amor é uma arte, mas também uma ciência, e exige consciência, trabalho e compromisso. Não é algo que acontece por acaso, mas uma decisão que se toma todos os dias, no sentido de nos ligarmos ao outro, de o respeitarmos e de crescermos juntos. É importante olhar para o amor não só como um sentimento, mas como um conjunto de ações e gestos (pequenos, mas importantes) que contribuem para a atração, a conexão, o respeito e a confiança.

Acredito que, ao compreendermos e aceitarmos a complexidade do amor, podemos construir relacionamentos mais fortes, resilientes e satisfatórios. Num mundo muitas vezes marcado pela superficialidade e pelo imediatismo, a cultura do amor profundo, comprometido e duradouro é uma fonte de alegria e de realização incomparáveis. É uma construção em que vale a pena investir, pois acaba por ser uma obra1 grandiosa e que tem impacto, não só no crescimento e bem-estar individual de cada um, mas também da sociedade em geral.

1Palavra de origem latina e que indica o resultado de uma ação ou do trabalho de um ou mais autores (no âmbito das letras, ciências ou artes) e, quando considerada a melhor produção, é uma obra-prima (https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/obra).

Referências:

Tobore,T. O. (2020) Towards a Comprehensive Theory of Love: The Quadruple Theory. Front. Psychol. 11:862. doi: 10.3389/fpsyg.2020.00862

Fredrickson, B. (2021) The Role of Positive Emotions in Positive Psychology: The Broaden-and-Build Theory of Positive EmotionsAm Psychol. 2001 March ; 56(3): 218–226

As três entidades do Amor: cuidar do Eu, do Outro e do Relacionamento

A importância de cuidar de si próprio, do outro e do relacionamento é fundamental para a saúde emocional e para a longevidade do casal. Ao falar de relacionamentos, identificamos três entidades essenciais: a pessoa, o seu par e o relacionamento em si. Cada uma destas requer atenção e investimento para que a dinâmica amorosa se mantenha saudável e resistente às adversidades.

O primeiro passo é cuidar de si mesmo. Cada elemento do casal deve reconhecer as suas próprias necessidades emocionais e físicas, reconhecer as suas potencialidades e também os aspetos a melhorar, procurando crescimento pessoal e autocuidado. Para isto, é necessário desenvolver autoconhecimento que, não só melhora o bem-estar individual, como também fortalece a capacidade de contribuir para a relação.

Cuidar do outro implica estar atento às suas necessidades e sentimentos. O compromisso de ouvir, apoiar e validar as experiências do outro é fundamental e proporciona uma conexão mais profunda. É importante que cada um se sinta seguro para expressar as suas vulnerabilidades, se sinta amado e valorizado, sabendo que o outro está ali, disponível para escutar e para oferecer suporte.

Por último, cuidar do relacionamento como uma entidade própria envolve dedicar tempo e esforço para alimentar a conexão entre o casal através, por exemplo, de momentos de qualidade juntos, de comunicação aberta, da predisposição para resolver conflitos de maneira construtiva. É fundamental que ambas as pessoas se comprometam a zelar pela “saúde” do relacionamento, que pode ser comparado com um organismo humano, composto por um conjunto de sistemas interligados. Cada um desses sistemas — como a comunicação, a expressão de emoções e a resolução de conflitos — desempenha um papel essencial na manutenção do bem-estar do casal.

O compromisso mútuo em cuidar e investir nestas três áreas — em si mesmo, no outro e na relação — é o que permite que um casal resista às dificuldades. Assim como o corpo humano requer cuidados constantes para funcionar adequadamente, o relacionamento também precisa de atenção regular para crescer de forma saudável. Quando ambos os elementos do casal se dedicam a cuidar da sua própria saúde emocional e física, bem como a apoiar o bem-estar do outro, criam um ambiente propício ao crescimento e à felicidade mútua. Além disso, é importante que priorizem também o relacionamento e lhe dediquem tempo (tal como na carreira profissional, para se evoluir e crescer no relacionamento é preciso tempo, dedicação e aprendizagem; se não se faz este investimento e priorização, o relacionamento estagna ou até perde valor e significado).

Finalmente, é importante reconhecer que o tempo e o ritmo de cada um podem não coincidir. Às vezes é um que está mais disponível ou motivado para puxar pela relação, outras vezes é o outro. O importante é que ambos estejam dispostos a cuidar um do outro e também a permitir que o outro cuide deles. Esta reciprocidade é vital para fortalecer a segurança e os laços emocionais e para garantir que o relacionamento resista às adversidades. Assim, cada pessoa deve assumir a responsabilidade pela sua parte nesta equação e, ao cuidar ativamente destas três entidades, os casais constroem uma base sólida para um amor duradouro e significativo.  É nesta dedicação mútua que assenta a verdadeira essência dos relacionamentos: a capacidade de crescer juntos, de enfrentar desafios lado a lado e de celebrar cada pequena vitória com gratidão.

 

“Ouvir verdadeiramente é amor em ação”

 

Scott Peck enfatiza a importância da escuta ativa nos relacionamentos, especialmente no casamento. Sugere que ouvir verdadeiramente implica concentração total e um esforço consciente para compreender o outro. Este tipo de escuta vai além do simples ouvir das palavras, envolve compreender as emoções e as intenções por trás delas.
Quando um casal consegue praticar uma escuta profunda e atenta, isso pode levar a um maior entendimento mútuo e a uma maior conexão emocional. No entanto, este tipo de comunicação eficaz requer prática e dedicação de ambos os elementos do casal.

“Ouvir verdadeiramente, ter total concentração no outro, é sempre uma manifestação de amor. Uma parte essencial de ouvir verdadeiramente é a disciplina dos parênteses, prescindir temporariamente ou pôr de lado os nossos preconceitos, quadros de referência e desejos, por forma a entrar tanto quanto possível no interior do mundo do outro, pondo-nos no seu lugar. Esta unificação do orador e do ouvinte é, na verdade, uma extensão e um engrandecimento do Eu, e traz sempre consigo novos conhecimentos. Além disso, como ouvir verdadeiramente implica os parênteses, um pôr de lado do Eu, também envolve temporariamente uma total aceitação do outro. Ao sentir esta aceitação, o orador sentir-se-á menos vulnerável e cada vez mais inclinado a abrir ao ouvinte os recantos mais íntimos da sua mente. À medida que isto vai acontecendo, o orador e o ouvinte começam a apreciar-se cada vez mais um ao outro, iniciando-se de novo o dueto de dança do amor. A energia exigida pela disciplina dos parênteses e a focagem de total atenção é tão grande que só pode ser conseguida por amor, pela vontade de se prolongar pelo desenvolvimento mútuo. (…)

Dado que ouvir verdadeiramente é  amor em ação, não existe para ele lugar mais adequado do que no casamento. No entanto, a maior parte dos casais não se ouve verdadeiramente um ao outro. Consequentemente, quando casais nos procuram para aconselhamento ou terapia, uma das tarefas principais que nos incumbem para que o processo seja bem-sucedido é ensiná-los a ouvir. Não é pouco frequente falharmos, já que a energia e a disciplina envolvidas são mais do que as que estão dispostos a gastar ou a submeter-se. Há casais que ficam surpreendidos , e até horrorizados, quando sugerimos que, entre as coisas que devem fazer, é conversar um com o outro por marcação. Parece-lhes rígido, sem romantismo e sem espontaneidade. No entanto, ouvir verdadeiramente só pode acontecer quando se reserva tempo para o fazer e se criam condições de suporte. Não acontece quando as pessoas estão a conduzir, a cozinhar, cansadas, ansiosas por dormir, ou podem ser facilmente interrompidas, ou estão com pressa. O «amor» romântico não exige esforço e os casais sentem-se frequentemente relutantes em empreender o esforço e a disciplina do amor e do ouvir verdadeiros. Mas quando e se o fazem, os resultados são enormemente gratificantes.”

Transcrição de “O caminho menos percorrido” de M. Scott Peck, pp. 118-119

A importância dos rituais de ligação na vida do casal

Os relacionamentos são uma jornada contínua e dinâmica de conexão e reconexão, são como uma dança que alterna momentos de proximidade e distanciamento, revelando simultaneamente complexidade e harmonia. Não sendo bailarina, imagino que seja como dançar o tango, uma dança apaixonante, intensa, por vezes com passos de grande proximidade entre o par, outras vezes com passos mais individualizados ou até de perseguição, mas sempre revelando pontos de contacto e de ligação, não perdendo de vista o seu par e a coreografia, tendo a música como um guia. A coreografia poderá ser o projeto de vida a dois, podendo por vezes necessitar de algum improviso, de ajustes de um e/ou de outro, de apoio mútuo, sendo também necessário um treino prévio (fase de namoro), para se conhecerem, ajustar expectativas, alinhar objetivos e perceber se o par se encaixa de forma harmoniosa. A música será a vida, umas vezes mais calma, outras mais intensa, umas vezes relaxante, outras inquietante, ou umas vezes harmoniosa, outras desconcertante…

Todos os relacionamentos oscilam entre a necessidade de segurança emocional e a busca por novidade e é através dos rituais de ligação que podemos equilibrar esses desejos aparentemente contraditórios.

Pequenos gestos diários, como um beijo de despedida antes de sair para o trabalho, uma mensagem ou telefonema na hora do almoço, ou um momento de partilha ao final do dia, ajudam a construir uma base sólida de segurança. Estes ou outros rituais regulares proporcionam consistência e previsibilidade e, ao saberem que há um momento dedicado ao casal, independentemente das circunstâncias, reforça a ideia de que o relacionamento é uma prioridade, reduz a incerteza e fortalece a confiança mútua. Além disso, estes rituais, por muito pequenos que sejam, constituem momentos em que os elementos do casal estão totalmente presentes um para o outro, a ouvir ativamente e a mostrar interesse genuíno um pelo outro. Pequenos gestos de carinho, como um bilhete amoroso deixado na mesa ou um abraço ao final do dia, são ainda rituais simples que expressam apreciação e dedicação, servindo como lembretes constantes de que o outro é valorizado e amado, fortalecendo a base emocional do relacionamento.

Por vezes os casais queixam-se de monotonia, estagnação, ou de estarem presos nas rotinas diárias, em “piloto automático” (que é como quem diz, “falta salero” nesta dança). De facto, a segurança que os rituais trazem, podem trazer também esse revés, pelo que é importante lembrar que os rituais de ligação permitem simultaneamente a redescoberta e a novidade na relação, mantendo-a viva e estimulante, permitindo que o casal se veja um ao outro sob novas perspetivas e continue a descobrir-se ao longo do tempo. Para isso, é importante incorporar novos elementos nos rituais existentes ou criar novos rituais que possam trazer uma “lufada de ar fresco” ao relacionamento, como por exemplo variar o restaurante “do costume”, experimentar uma atividade nova, ou quebrar a rotina com um almoço a meio do trabalho. Explorar (novos) interesses em comum permite ao casal explorar novas facetas de si mesmos e do outro. Esses momentos criam novas memórias e permitem que o casal se redescubra em diferentes contextos (porque não umas aulas de tango, ou uma atividade desportiva em conjunto?). Além dos rituais regulares, pequenos atos de espontaneidade, como um convite inesperado para uma escapadela a dois, ou uma mensagem carinhosa enviada ao longo do dia, podem trazer uma sensação de excitação e surpresa, ajudando a quebrar a rotina e a introduzir uma dose saudável de novidade na relação.

Os rituais de ligação são como os passos de uma dança de tango, trazem dinamismo e movimento à relação, ora proporcionando a segurança de um abraço apertado, ora permitindo a emoção de uma volta inesperada. Ao equilibrar estes dois elementos, segurança e novidade, os casais podem construir uma relação plena e duradoura, onde ambos se sentem comprometidos, seguros e continuamente inspirados a redescobrir o amor, mesmo em alturas de maior adversidade. Os rituais são ainda um lembrete da escolha que fizeram, dizendo um ao outro que o escolheram para dançar neste bailado que é a vida.

P.S. – Este texto foi escrito ao som de música “The best of tango” através do youtube. 🙂

Texto escrito para o Blog do Pausa para Sentir – https://www.pausaparasentir.pt/blog/a-importancia-dos-rituais-de-ligacao-na-vida-do-casal

Conversas que curam: como discutir de forma construtiva

As pessoas são muito diferentes umas das outras. Muitas das pessoas importantes para nós têm formas diferentes de pensar, de comunicar, de reagir, de decidir, de lidar com o conflito, de lidar com o desafio, de mostrar preocupações, de perseguir os seus objetivos… E ao lembrarmos-nos disto percebemos porque é que é tão fácil surgirem desentendimentos, discussões ou conflitos, mesmo com as pessoas que nos são mais próximas e que mais amamos.

Perante a palavra conflito, é comum que as pessoas a associem a algo negativo, que gera discórdia, afastamento e sentimentos menos agradáveis. No entanto, nem todos os conflitos são prejudiciais. Na verdade, alguns podem mesmo trazer mudanças positivas, crescimento pessoal, descoberta de novas soluções e melhorias nos relacionamentos. Os conflitos são inevitáveis e até saudáveis, fazem parte das interações e das relações humanas e é a forma como são geridos e resolvidos que determina os seus resultados e impactos. Em vez de os evitar, é importante aprender a lidar com os conflitos de forma construtiva.

Assim, tendo em conta uma relação de casal, não é expectável que sejam imunes e ausentes de conflitos, tensões, divergências. Todos os casais discutem! Há casais que têm um elevado grau de conflito, que se deparam com grandes divergências (quer nas pequenas, quer nas grandes questões), que podem até ter um estilo de comunicação mais “aceso”, mas não é isto que vai ditar uma eventual rutura ou separação. Assim como há casais que, aparentemente, estão de acordo em tudo, raramente discutem, parecem viver numa sintonia e harmonia “ensurdecedoras”. E quando nos deparamos com um conflito, normalmente pensamos e pressionamos-nos para encontrar uma solução. Mas e quando não há uma solução possível? Na verdade, muitos dos problemas que geram conflito num casal não têm uma solução e acabam por permanecer no tempo. Por exemplo, questões relacionadas com incompatibilidades com as famílias de origem um do outro, desejo de ter ou não ter (mais) filhos, características individuais mais vincadas, por vezes provenientes da própria história de vida de cada um, são algumas situações que podem gerar problemas e conflitos no casal, não sendo possível encontrar uma resolução consensual (uma situação “ganha-ganha”, pois um dos elementos do casal “ganha” e o outro “perde”). Nestas situações, é então fundamental gerir o conflito/problema, e não resolvê-lo (porque não tem solução).

Alguns dos sinais que indicam que estamos a gerir uma discussão ou conflito de forma negativa, não funcional, e tendencialmente destrutiva são:

  • Interações e sentimentos predominantemente negativos, contribuindo para um aumento da escalada de tensão e para a personificação do problema, adotando posturas de acusação e menos centradas no problema. Estas posturas levam um ou ambos os membros do casal a apresentar, por exemplo, elevação no tom de voz (e outras ativações fisiológicas, como a aceleração do batimento cardíaco), desrespeito, desconsideração pelo outro, falta de compreensão das necessidades e sentimentos do outro, falta de empatia, desenvolvendo uma visão negativa do outro e do próprio relacionamento.
  • Elevado criticismo e desvalorização do outro, realçando apenas aquilo que o outro tem de negativo, através por exemplo de insultos, críticas pessoais, ataques à dignidade, o que proporciona uma perspetiva redutora e negativa do outro, em vez de se forcar na resolução do problema.
  • Atitude defensiva, negando qualquer tipo de responsabilidade na situação e centrando culpas no outro.
  • Desprezo, adotando uma postura de superioridade ou de menosprezo em relação ao outro (sarcasmo, insultos, inferiorizar o outro).
  • Desistência ou desligamento emocional, na medida em que se verifica ausência de qualquer tipo de afeto positivo durante o conflito, ignorando as tentativas de aproximação e de conexão emocional apresentadas pelo outro (“virar costas”).
  • Incapacidade para travar a escalada de tensão, apresentando dificuldade na regulação da impulsividade/reatividade, quer em si próprio, quer no outro.
  • Incapacidade para aceitar a influência do outro.

É importante discutir “bem”, com qualidade, de maneira que o conflito tenha um carácter construtivo e funcional, ou seja, que proporcione crescimento individual e/ou em casal, que permita evoluir e não destruir o casal.

Os casais mais felizes e funcionais abordam os problemas de forma calma e respeitosa e têm em conta a dimensão emocional, não ignorando as emoções mais difíceis e dolorosas.

Perante questões difíceis ou problemas, algumas estratégias que ajudam os casais a discutir com qualidade e de forma mais construtiva são:

  • Escolher o momento e o local adequados para abordar o assunto, assegurando que ambos se sentem disponíveis, seguros e à vontade para expressar e explorar as suas emoções mais profundas, as suas necessidades e preocupações, com calma e sem medo de críticas ou julgamentos.
  • Comunicar de forma clara e assertiva, falando na primeira pessoa (“eu sinto…”, “eu preciso de…”), transmitindo assim o que sente e quais as suas necessidades, evitando um tom de crítica e de julgamento em relação ao outro.
  • Escutar o outro e validar os seus sentimentos, adotando uma postura de “bom ouvinte” (mesmo que discorde) e deixando de lado a sua própria agenda (as suas necessidades, as suas emoções), verificando se está a receber bem a mensagem que lhe está a ser transmitida, por exemplo, reformulando aquilo que ouviu e perguntando se foi isso (preocupações, medos, anseios) que o outro quis transmitir.
  • Deixar-se influenciar pelo outro, evitando a rigidez (em que cada um fica na sua posição e mantém os mesmos argumentos) e mantendo o respeito um pelo outro, aceitando as diferenças de cada um e confiando que cada um quer o melhor para o outro, separando o problema da essência da pessoa.
  • Prevenir a negatividade na interação, evitando a escalada de tensão, procurando comunicar de forma consistentemente positiva.
  • Ter a capacidade de reparar a interação, diminuindo a escalada de tensão, por exemplo pedindo desculpa por algo que tenha dito de forma menos adequada, reformulando, procurando regular-se emocionalmente para que possam tentar novamente discutir o problema e lembrando o verdadeiro sentido da discussão (que não é para magoar o outro).

As discussões e os problemas no casal, sendo geridas de forma mais construtiva, proporcionam maior autoconhecimento (individual e do casal – sobre as suas preocupações, os seus medos, os seus sonhos, os seus valores), podendo surgir novos entendimentos, novas estratégias para gerir situações mais difíceis e, acima de tudo, maior intimidade e proximidade. Isto é possível, não só desenvolvendo afetos positivos durante os conflitos, mas também fora deles, na relação em geral. Na verdade, tal como defende o psicólogo John Gottman, é fundamental que o casal vá contribuindo para uma “poupança emocional” para que, em momentos mais difíceis, possa recorrer às suas reservas, sendo de evitar que o seu saldo de afetos positivos fique “a zeros”.

Concluindo, é bom discutir, mas com qualidade! E a terapia de casal pode ser uma ferramenta valiosa para superar desafios e fortalecer o vínculo, sendo um tempo e um espaço do e para o casal, onde podem ser discutidas e trabalhadas estratégias que contribuam para o seu crescimento. Finalmente, há um novo espaço para uma “Pausa para Sentir”, onde os casais poderão usufruir de acompanhamento especializado e personalizado, num ambiente acolhedor e com uma equipa de profissionais dedicada! Venham conhecer-nos!

 

(Texto escrito para o Blog do “Pausa para Sentir”, publicado a 25 Maio 2024 – https://www.pausaparasentir.pt/blog/conversas-que-curam-como-discutir-de-forma-construtiva)

O segredo das pequenas coisas

John Gottman diz “Successful long-term relationships are created through small words, small gestures, and small acts.” Os casamentos duradouros de sucesso são feitos de pequenas palavras, pequenos gestos e pequenas acções.

Um casamento faz-se todos os dias e não são precisas grandes coisas para mostrar que se ama o seu cônjuge. Vários estudos demonstram que muitas pessoas se sentem amadas através de pequenos gestos, como um abraço, dar as mãos ou actos de carinho comuns.

Aqui ficam 5 formas de fazer pequenas coisas que contribuem para um casamento feliz:

1 – Demonstrar amor através de pequenos gestos: há pequenos gestos que pode fazer e que ocupam poucos minutos, como escrever um bilhete carinhoso e deixá-lo em sítios originais de forma a surpreender a pessoa que ama, dar a mão ou um abraço.

2 – Criar rituais diários de ligação: John Gottman recomenda que se passe 15-20 minutos por dia a ter uma conversa des-stressante com o seu cônjuge. É importante encontrar um tempo entre as rotinas familiares em que ambos estejam disponíveis. Podem conversar enquanto dão um passeio a pé, ou simplesmente enquanto tomam um café ou um chá, ou, porque não, um aperitivo. Cabe a cada casal encontrar os seus rituais de ligação/conexão; pode ser um beijo antes de sairem de casa, podem ser mensagens carinhosas trocadas ao longo do dia, ou um almoço semanal para quebrar a rotina do trabalho. O importante é que ambos se sintam ligados/conectados.

3 – Ter o hábito de dizer palavras de carinho e educadas, como “por favor”, “desculpa” ou “obrigado” : vários estudos indicam que os casais que pedem desculpa quando se magoam, ainda que sem essa intenção, e que se perdoam, têm um relacionamento de maior sucesso. Pedir desculpa e assumir a responsabilidade é o antídoto de uma atitude defensiva, que é um dos quatro tipos de comportamentos negativos identificados por John Gottman que prejudicam a qualidade de um relacionamento. Além disso, quando se consegue reparar determinada acção ou palavra, através de um pedido de desculpas após uma discussão, isso ajuda a diminuir a tensão e ajuda-o a sentir-se mais ligado ao seu cônjuge.

4 – Tomar a iniciativa e oferecer apoio ao seu cônjuge: Pode ajudar a completar tarefas, ou ajudar a concluir um projecto. Estas acções positivas contribuem para a interdependência e para a criação de um propósito e de um significado partilhado no seu relacionamento. A criação de um contexto mais alargado do significado da vida pode ajudar os casais a ficarem concentrados no seu projecto de vida (na “big picture”) e não apenas nas pequenas coisas que os podem afastar/separar. No que respeita à criação de um relacionamento duradouro e consistente, os momentos pequenos e intencionais de carinho e de ligação são mais poderosos do que gestos exagerados isolados. Isto não significa que não é importante celebrar grandes eventos com gestos de amor e românticos, como aniversários ou outras datas importantes, simplesmente não se esqueça de oferecer pequenos gestos de carinho diários ao seu cônjuge, que são os gestos de ligação mais importantes.

5 – Um gesto vale mais do que mil palavras: para que se sinta bem no seu casamento é importante que passe tempo de qualidade com o seu cônjuge, dando ênfase aos pequenos gestos de carinho. Corresponder positivamente às iniciativas de conexão do seu cônjuge irá ajudá-lo/a a sobressair o que de melhor cada um tem e a manter um casamento pleno. Presenteie o seu cônjuge com pequenos gestos de amor e apreciação todos os dias!

 

Referência: https://www.gottman.com/blog/5-ways-make-small-gestures-count-marriage/

Dez propostas para os casais

Daniel Sampaio, no seu livro “Labirinto de Mágoas  – As crises do casamento e como enfrentá-las” sugere dez propostas para os casais que já mudaram e para todos aqueles que lutam pela mudança:

  1. Comece por se escutar a si próprio (conheça-se melhor);
  2. Regresse, por momentos, à sua família de origem (verifique se continua dependente dessa estrutura familiar ou se já conseguiu constrir uma nova linguagem de amor com o seu cônjuge);
  3. Procure melhorar a sua comunicação conjugal;
  4. Esteja atento aos padrões destrutivos da sua comunicção conjugal (evite a escalada, o afastamento e o criticismo);
  5. Compreenda que não é possível resolver tudo, nem chegar a acordo sobre todos os temas;
  6. Crie um reservatório de afectos positivos (cultive afectos positivos);
  7. Nunca esqueça a dimensão da sexalidade no seu entendimento conjugal;
  8. Procure ajuda profissional quando necessário;
  9. Não se lance no processo de divórcio sem uma reflexão profunda sobre o seu casamento;
  10. A confiança é uma palavra sempre presente numa relação duradoura satisfatória.

 

Referência: “Labirinto de Mágoas  – As crises do casamento e como enfrentá-las”, Daniel Sampaio (2012), pp. 225-228.