Scott Peck enfatiza a importância da escuta ativa nos relacionamentos, especialmente no casamento. Sugere que ouvir verdadeiramente implica concentração total e um esforço consciente para compreender o outro. Este tipo de escuta vai além do simples ouvir das palavras, envolve compreender as emoções e as intenções por trás delas.
Quando um casal consegue praticar uma escuta profunda e atenta, isso pode levar a um maior entendimento mútuo e a uma maior conexão emocional. No entanto, este tipo de comunicação eficaz requer prática e dedicação de ambos os elementos do casal.
“Ouvir verdadeiramente, ter total concentração no outro, é sempre uma manifestação de amor. Uma parte essencial de ouvir verdadeiramente é a disciplina dos parênteses, prescindir temporariamente ou pôr de lado os nossos preconceitos, quadros de referência e desejos, por forma a entrar tanto quanto possível no interior do mundo do outro, pondo-nos no seu lugar. Esta unificação do orador e do ouvinte é, na verdade, uma extensão e um engrandecimento do Eu, e traz sempre consigo novos conhecimentos. Além disso, como ouvir verdadeiramente implica os parênteses, um pôr de lado do Eu, também envolve temporariamente uma total aceitação do outro. Ao sentir esta aceitação, o orador sentir-se-á menos vulnerável e cada vez mais inclinado a abrir ao ouvinte os recantos mais íntimos da sua mente. À medida que isto vai acontecendo, o orador e o ouvinte começam a apreciar-se cada vez mais um ao outro, iniciando-se de novo o dueto de dança do amor. A energia exigida pela disciplina dos parênteses e a focagem de total atenção é tão grande que só pode ser conseguida por amor, pela vontade de se prolongar pelo desenvolvimento mútuo. (…)
Dado que ouvir verdadeiramente é amor em ação, não existe para ele lugar mais adequado do que no casamento. No entanto, a maior parte dos casais não se ouve verdadeiramente um ao outro. Consequentemente, quando casais nos procuram para aconselhamento ou terapia, uma das tarefas principais que nos incumbem para que o processo seja bem-sucedido é ensiná-los a ouvir. Não é pouco frequente falharmos, já que a energia e a disciplina envolvidas são mais do que as que estão dispostos a gastar ou a submeter-se. Há casais que ficam surpreendidos , e até horrorizados, quando sugerimos que, entre as coisas que devem fazer, é conversar um com o outro por marcação. Parece-lhes rígido, sem romantismo e sem espontaneidade. No entanto, ouvir verdadeiramente só pode acontecer quando se reserva tempo para o fazer e se criam condições de suporte. Não acontece quando as pessoas estão a conduzir, a cozinhar, cansadas, ansiosas por dormir, ou podem ser facilmente interrompidas, ou estão com pressa. O «amor» romântico não exige esforço e os casais sentem-se frequentemente relutantes em empreender o esforço e a disciplina do amor e do ouvir verdadeiros. Mas quando e se o fazem, os resultados são enormemente gratificantes.”
Transcrição de “O caminho menos percorrido” de M. Scott Peck, pp. 118-119