Os relacionamentos são uma jornada contínua e dinâmica de conexão e reconexão, são como uma dança que alterna momentos de proximidade e distanciamento, revelando simultaneamente complexidade e harmonia. Não sendo bailarina, imagino que seja como dançar o tango, uma dança apaixonante, intensa, por vezes com passos de grande proximidade entre o par, outras vezes com passos mais individualizados ou até de perseguição, mas sempre revelando pontos de contacto e de ligação, não perdendo de vista o seu par e a coreografia, tendo a música como um guia. A coreografia poderá ser o projeto de vida a dois, podendo por vezes necessitar de algum improviso, de ajustes de um e/ou de outro, de apoio mútuo, sendo também necessário um treino prévio (fase de namoro), para se conhecerem, ajustar expectativas, alinhar objetivos e perceber se o par se encaixa de forma harmoniosa. A música será a vida, umas vezes mais calma, outras mais intensa, umas vezes relaxante, outras inquietante, ou umas vezes harmoniosa, outras desconcertante…
Todos os relacionamentos oscilam entre a necessidade de segurança emocional e a busca por novidade e é através dos rituais de ligação que podemos equilibrar esses desejos aparentemente contraditórios.
Pequenos gestos diários, como um beijo de despedida antes de sair para o trabalho, uma mensagem ou telefonema na hora do almoço, ou um momento de partilha ao final do dia, ajudam a construir uma base sólida de segurança. Estes ou outros rituais regulares proporcionam consistência e previsibilidade e, ao saberem que há um momento dedicado ao casal, independentemente das circunstâncias, reforça a ideia de que o relacionamento é uma prioridade, reduz a incerteza e fortalece a confiança mútua. Além disso, estes rituais, por muito pequenos que sejam, constituem momentos em que os elementos do casal estão totalmente presentes um para o outro, a ouvir ativamente e a mostrar interesse genuíno um pelo outro. Pequenos gestos de carinho, como um bilhete amoroso deixado na mesa ou um abraço ao final do dia, são ainda rituais simples que expressam apreciação e dedicação, servindo como lembretes constantes de que o outro é valorizado e amado, fortalecendo a base emocional do relacionamento.
Por vezes os casais queixam-se de monotonia, estagnação, ou de estarem presos nas rotinas diárias, em “piloto automático” (que é como quem diz, “falta salero” nesta dança). De facto, a segurança que os rituais trazem, podem trazer também esse revés, pelo que é importante lembrar que os rituais de ligação permitem simultaneamente a redescoberta e a novidade na relação, mantendo-a viva e estimulante, permitindo que o casal se veja um ao outro sob novas perspetivas e continue a descobrir-se ao longo do tempo. Para isso, é importante incorporar novos elementos nos rituais existentes ou criar novos rituais que possam trazer uma “lufada de ar fresco” ao relacionamento, como por exemplo variar o restaurante “do costume”, experimentar uma atividade nova, ou quebrar a rotina com um almoço a meio do trabalho. Explorar (novos) interesses em comum permite ao casal explorar novas facetas de si mesmos e do outro. Esses momentos criam novas memórias e permitem que o casal se redescubra em diferentes contextos (porque não umas aulas de tango, ou uma atividade desportiva em conjunto?). Além dos rituais regulares, pequenos atos de espontaneidade, como um convite inesperado para uma escapadela a dois, ou uma mensagem carinhosa enviada ao longo do dia, podem trazer uma sensação de excitação e surpresa, ajudando a quebrar a rotina e a introduzir uma dose saudável de novidade na relação.
Os rituais de ligação são como os passos de uma dança de tango, trazem dinamismo e movimento à relação, ora proporcionando a segurança de um abraço apertado, ora permitindo a emoção de uma volta inesperada. Ao equilibrar estes dois elementos, segurança e novidade, os casais podem construir uma relação plena e duradoura, onde ambos se sentem comprometidos, seguros e continuamente inspirados a redescobrir o amor, mesmo em alturas de maior adversidade. Os rituais são ainda um lembrete da escolha que fizeram, dizendo um ao outro que o escolheram para dançar neste bailado que é a vida.
P.S. – Este texto foi escrito ao som de música “The best of tango” através do youtube. 🙂
Texto escrito para o Blog do Pausa para Sentir – https://www.pausaparasentir.pt/blog/a-importancia-dos-rituais-de-ligacao-na-vida-do-casal