As crianças não fazem o que nós dizemos, fazem o que nós fazemos.
Ser pai/mãe é capaz de ser dos maiores desafios que algum ser humano pode encontrar e poderá ser a melhor forma de nos ensinar que o ser humano sente antes de pensar e que as crianças têm muito mais que ver com sentimentos do que com qualquer outra coisa.
“Um bebé é sentimento puro – um feixe de sentimentos, por assim dizer. Nem sempre compreendemos tudo o que os bebés sentem, por vezes temos de os acalmar durante muito tempo antes de eles ficarem calmos, mas é através de todo esse trabalho que fazemos com amor que construímos os alicerces da saúde emocional futura dos nossos filhos.”
Ignorar ou negar os sentimentos de uma criança pode prejudicar a sua saúde emocional futura. Perante sentimentos negativos dos filhos, a primeira reação dos pais poderá ser de negação, distração desses sentimentos, como se isso fosse resolver o sofrimento deles. Nenhum pai ou mãe gosta de ver os seus filhos tristes, ou zangados, ninguém gosta de ver sofrer as pessoas que ama. Mas enquanto não confrontarmos os sentimentos, estes não desaparecem, ficam escondidos, “debaixo do tapete”, para um dia mais tarde voltarem a sair do seu esconderijo, provavelmente ainda mais “fortes”, causando problemas maiores. “Pense nisto: quando precisa de gritar mais alto? É quando não é ouvido. Os sentimentos precisam de ser ouvidos.”
É muito importante que os pais percebam (sem ser necessário acrescentar sentimentos de culpa) que uma das causas mais comuns da depressão no adulto não é o que lhe está a acontecer no momento presente, mas o facto de não ter aprendido, através da relação com os seus pais, como podia ser apaziguado. “Se, em vez de ser compreendido e reconfortado, o indivíduo viu os seus sentimentos desvalorizados, ou chorou sozinho até adormecer, ou ficou entregue a si próprio com a sua raiva, a capacidade que tinha para tolerar emoções desagradáveis ou dolorosas foi diminuindo à medida que as dissonâncias emocionais se acumulavam.
Digamos que o espaço onde esconder emoções difíceis é limitado; a certa altura, fica demasiado cheio, e as emoções já não têm para onde ir. Quando somos apaziguados, uma e outra vez, pelos nossos pais, tornamo-nos mais otimistas em relação aos nossos sentimentos, sejam eles quais forem, o que nos deixa menos vulneráveis à depressão e à ansiedade ao longo da vida.” E sendo a tarefa da parentalidade tão difícil – afinal de contas estamos a preparar os adultos de amanhã – “todos os pais cometem erros, e corrigi-los é mais importante do que os erros propriamente ditos.”
Quanto melhor aceitarmos e exprimirmos os nossos sentimentos e quanto melhor nos soubermos apaziguar, mais disponíveis ficamos para ser recipientes para os sentimentos dos nossos filhos, aceitando e validando aquilo que eles sentem, ajudando-os e ensinando-os a gerir os seus próprios sentimentos, para que um dia também se saibam apaziguar.
Referência: “O livro que gostaria que os seus pais tivessem lido (e que os seus filhos agradecem que leia também)”, Philippa Perry (2020), pp. 69-83.