Conhecem “Casais Robustos”?

Numa época em que as relações enfrentam ritmos acelerados e múltiplas exigências, o que distingue os casais emocionalmente resilientes?

Tal como nas fotografias que partilho (a primeira tirada pela Luísa Gonçalves da Costa e a segunda tirada por mim), há dias cheios de sol e outros de tempestade. Casais robustos são aqueles que, mesmo nos dias difíceis, não deixam que o mau tempo se instale para sempre no seu relacionamento. Enfrentam as tempestades lado a lado, com segurança e confiança de que o sol há de voltar (porque, na verdade, o “boletim meteorológico” da sua relação costuma apresentar céu limpo e brisa fresca).

Curiosamente, “Casais Robustos” também é o nome de uma aldeia do distrito de Santarém localizada numa encosta da Serra de Aire, pertencente à freguesia de Moitas Venda, Município de Alcanena e é parte integrante do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (para os mais curiosos, conheçam a sua origem em https://pt.wikipedia.org/wiki/Casais_Robustos). Ao passar por lá (só fotografámos à saída…), lembrei-me de casais robustos que conheço, pessoal e profissionalmente, e do esforço diário que fazem para o ser.

Mas afinal, o que é ser um casal robusto?

É ter um vínculo seguro, ou seja, aproveitar os momentos de bonança e, ao mesmo tempo, aguentar as tempestades sem abandonar o barco. É respeitar as diferenças, ficar um ao lado do outro mesmo quando há algum distanciamento e, acima de tudo, garantir que não se instala o desligamento emocional. Quando sentimos que o outro nos ama e nos valoriza, conseguimos atravessar qualquer tempestade.

No fundo, todos procuramos o mesmo: sentir-nos amados pelo que somos e reconhecidos pelo que fazemos. Quando isso falha, erguemos barreiras e recorremos a reações de autoproteção (afastamo-nos, reagimos em excesso ou ficamos sem ação) para não sentirmos rejeição ou abandono. No entanto, ao fecharmo-nos, cortamos precisamente a conexão de que mais precisamos.

Casais próximos e conectados emocionalmente são aqueles que compreendem os medos e as necessidades um do outro e procuram atendê-las. Dizer “preciso de atenção”, “preciso de espaço” ou “preciso de sentir segurança” é essencial e, quando estas necessidades são atendidas, o casal permanece próximo e seguro. Contrariamente, quando não são atendidas, surgem os comportamentos de protesto (como queixas, críticas, silêncios), que são sinais claros de pedidos não ouvidos. Esta ligação constrói-se no dia-a-dia, na forma como falam, como se comportam e até na forma como pensam um no outro.

Muitas das nossas necessidades emocionais de adultos têm origem na forma como fomos cuidados na infância. A teoria da vinculação mostra que, se crescemos a acreditar que emoções eram fraqueza ou que tínhamos de enfrentar dificuldades sozinhos, é provável que, em adultos, evitemos falar sobre o que sentimos. Fechamo-nos como defesa, mas o outro pode interpretar isso como desinteresse ou afastamento. Pelo contrário, quem cresceu a sentir-se ouvido e protegido aprende a procurar o outro em situações difíceis (para falar, partilhar, pedir presença). Porém, quando esta procura se torna intensa, o outro pode sentir-se invadido e acabar por recuar, deixando-nos com sentimentos de rejeição ou incompreensão.

Casais robustos não são casais sem conflitos. São aqueles que acreditam que, mesmo nos momentos difíceis, o outro vai estar lá para responder às suas necessidades. Mesmo que haja distância ou desencontros, confiam que vão reencontrar o caminho. E, quando falham, conseguem pedir desculpa, reparar e reconstruir a ligação. Ser casal robusto não é viver sem tempestades, mas ter a certeza de que, juntos, conseguem atravessá-las.

De que forma os chatbots “emocionalmente inteligentes” poderão desencadear uma nova crise de saúde mental?

A fronteira entre a ligação emocional humana e a ilusão digital está a tornar-se cada vez mais ténue. Que implicações isto terá na saúde mental coletiva?

“The result is chatbots that not only speak well but also feel human. They mirror the user’s tone, offer validation, and provide comfort without fatigue, judgment, or distraction. Unlike humans, they are always available. And people are falling for them. Media reports suggest that people are forming deep emotional attachments to these systems, with some even describing their experiences as love.”

Tenho vindo a ler e a refletir sobre o impacto da inteligência artificial na construção de relações humanas saudáveis e duradouras. Recentemente li um artigo muito interessante sobre “artificial intimacy” e que mostra como os jovens (e todos nós) estamos a reinventar a forma como vivemos e estabelecemos vínculos.

A tecnologia avança e permite o aparecimento de chatbots capazes de “entender” e “validar” sentimentos, sempre prontos a responder, sem julgar nem recusar. Parece ideal, certo? Mas não é!

O conforto digital mascara muitas vezes o que é essencial para qualquer relação humana: lidar com a frustração, com as fases menos boas, com a ambiguidade e a incerteza. Estes momentos são fundamentais para crescermos, aprendermos a aceitar, a gerir e a evoluir juntos.

Vejo com preocupação que muitos jovens (e também adultos) estão a perder a capacidade de enfrentar a rejeição ou o desconforto nas suas relações reais. Se deixarmos que “relacionamentos perfeitos”, instantâneos e sempre positivos, definidos por IA, sejam a referência, então corremos o risco de enfraquecer competências fundamentais como a resiliência e a empatia.

Reconheço e aceito (e utilizo) as potencialidades e vantagens da IA, mas esta não substitui o valor insubstituível dos altos e baixos dos relacionamentos genuínos e a experiência, por vezes de sofrimento, necessárias ao crescimento. A capacidade de questionar, refletir, decidir e aceitar o que sentimos é essencial para o desenvolvimento socioemocional. O sentido crítico, a capacidade de conexão, a tolerância, são competências únicas e exclusivamente humanas e nunca poderão ser automatizadas.

Partilho o link do texto completo para quem quiser aprofundar. Numa era digital como a que vivemos, é urgente continuar a pensar e a aprofundar conhecimento e experiência na construção de relacionamentos genuínos, saudáveis e duradouros. Afinal, a essência humana nunca poderá ser substituída (ainda que possa ser “espelhada” pelos “bots”).

https://www.afterbabel.com/p/artificial-intimacy?r=56i80k&utm_campaign=post&utm_medium=web&showWelcomeOnShare=false

Em vez de comparar e cobrar, valorizar e agradecer!

Numa sociedade que valoriza métricas e produtividade, como é que o espírito de equipa e a gratidão podem transformar a vida em casal?

“Sou sempre eu que trata de tudo cá em casa!”

“Sou sempre eu a decidir e a tratar das férias!”

“Se não fosse o meu trabalho, não teríamos a vida que temos!”

“Tu nunca fazes…”

Estes desabafos são familiares? São questões como estas que muitas vezes surgem na consulta de casal, demonstrando algum descontentamento, frustração e/ou sobrecarga por sentirem que há algum tipo de desequilíbrio na distribuição de tarefas, sejam de cariz doméstico, financeiro ou de logística familiar. Muitos procuram uma divisão total em tudo: nas despesas, nas tarefas, na dedicação emocional. No entanto, os casais saudáveis e duradouros são aqueles que aceitam que cada fase da vida exige diferentes contributos de cada um e que reconhecem o valor do outro, sem inveja e sem vergonha. É muito fácil entrar numa contabilidade e ajuste de contas, tentando ao máximo dividir de igual forma tudo o que se faz ou tudo o que é necessário para a gestão e planeamento da família, como se pudéssemos medir dedicação com tabelas de “Excel”.

Ambos os elementos do casal têm igual responsabilidade na execução e no funcionamento familiar. Para muitos casais é essencial que haja uma divisão 50/50 de tudo o que são tarefas e responsabilidades e isso, dada a natureza diferente de cada um, nem sempre funciona de forma harmoniosa, pois há pessoas com mais habilidade, sensibilidade ou apetência para umas coisas e não tanto para outras. Assim, o sucesso familiar não reside numa “calculadora”, mas sim num verdadeiro trabalho de equipa! E, na verdade, e aludindo a uma comparação futebolística, quem é que faz mais ou quem é mais importante, o guarda-redes ou o ponta de lança? Ambos são importantes e, só juntos, conseguem vencer.

Reduzir a vida a contas ao milímetro (quem faz mais, quem dá mais, quem se sacrifica mais) só traz desgaste, cobranças e ressentimentos silenciosos. O segredo é que haja um verdadeiro trabalho de equipa, complementar, em que cada um põe ao serviço do outro e da família as suas competências e habilidades. O verdadeiro equilíbrio familiar encontra-se não na comparação, mas na cooperação e no reconhecimento mútuo. É importante que ambos valorizem competências, talentos e contributos um do outro, mesmo quando ocorrem em áreas muito diferentes, como a gestão financeira, o cuidado emocional, a organização doméstica ou a gestão educacional.

Ao longo do tempo, é natural que um assuma maior relevância ou destaque em determinadas situações, e outro noutras. Isso não diminui ninguém; mostra, sim, que a família é um todo feito de peças diferentes, mas todas imprescindíveis. O verdadeiro equilíbrio reside numa vivência feita de respeito, cumplicidade e generosidade, na capacidade de apoiar o outro, sem invejas nem listas de créditos, e no reconhecimento, sem esperar retorno imediato ou visibilidade pelo que se faz. Na verdade, a soma de todos os esforços é o que traz bem-estar, segurança e felicidade a toda a família.

A família, e o casal especificamente, não é palco de rivalidades nem de “contagens”, mas um espaço onde todos podem contribuir e, a seu tempo, ser protagonistas. O verdadeiro sucesso está em sentirem-se essenciais, não por aquilo que fazem individualmente ou exibem, mas pelo conforto e equilíbrio que constroem juntos, todos os dias.

Concluindo, forçar o equilíbrio matemático (ou seja, cada um faz exatamente metade) gera frequentemente ressentimentos, cobranças e silêncios. O que sustenta o casal é o compromisso, a disponibilidade para dar o melhor de si ao outro e à família, a dedicação diária e o saber reconhecer o outro e agradecer. Ninguém constrói sozinho (com os seus talentos individuais) um relacionamento de sucesso, são precisos dois, um sentido de “nós”, uma interdependência saudável e complementar, para que o casal seja feliz e cresça em conjunto! Em vez de comparar e cobrar, é preciso valorizar as diferenças e agradecer!

(texto escrito para o Blog do site do Pausa para Sentir)

(imagem Pixabay)

As pessoas serão sempre pessoas!

Terminei mais um grupo de formação com jovens recém-chegados ao mercado de trabalho. Foi muito interessante perceber que, mais do que receber informação e conhecimento, aquilo que mais apreciaram foi a oportunidade para trocarem experiências, para se conhecerem e para se ligarem uns aos outros, experienciando autenticidade e proximidade.
Por mais que o mundo mude, com informação e conhecimento a circular a alta velocidade, com avanços tecnológicos e inovações constantes, o que realmente importa são as relações humanas.

A tecnologia pode reinventar o nosso dia-a-dia e transformar a forma como comunicamos, aprendemos ou vivemos, mas nenhum algoritmo é capaz de substituir a essência dos laços humanos: o respeito, a empatia, a confiança e o amor. Estes são os ingredientes que sustentam relações sólidas e que dão qualidade e sentido à nossa existência, independentemente do contexto em que vivemos.

As pessoas serão sempre pessoas e precisarão sempre de se ligar umas às outras com autenticidade.

O meu propósito

 

Esta citação resume muito daquilo em que acredito. O que me move verdadeiramente é o impacto. É o compromisso de contribuir para uma sociedade em que os relacionamentos sejam mais saudáveis, mais gratificantes e mais duradouros. O meu propósito nasce da vontade de cuidar das relações humanas; de inspirar, provocar reflexão e criar espaço para mudanças consistentes. É esta a missão e o compromisso do Tempo a Dois.

Deram-me uma poção mágica!

Ontem, depois de um longo dia de consultas, saí da clínica já tarde, apressada, ansiosa por chegar a casa, jantar e estar com a minha família. Sentia-me cansada, sem energia, com uma dor de cabeça a querer instalar-se (o corpo a pedir descanso). No meio das conversas sobre o que seria o jantar, lembraram-me de um pequeno detalhe: era preciso comprar uma pilha para o dia seguinte, para uma aula. Curiosamente, este pedido até tinha sido feito com alguma antecedência (quase duas semanas!) “Tenho tempo, depois compro…”, pensei. Mas o tempo foi passando, e, como algumas vezes acontece, só na véspera me lembrei da pilha. Mais um desvio a caminho de casa, quando tudo o que queria era repousar. Sentia-me como um céu de fim de tarde a encher-se de nuvens, o ar a ficar mais denso, a cabeça mais pesada.

Depois de perceber que o primeiro sítio onde me dirigia para comprar a pilha estava fechado, nada como ter de me mentalizar que não ia escapar de uma ida ao shopping… Decidi aproveitar para trazer o jantar de lá, poupando tempo à família. Pilha comprada, missão cumprida, uma nuvem a dissipar-se. Mas ainda faltava o jantar. Enquanto esperava que uma cliente terminasse o seu pedido, dei por mim a contar os minutos, cada vez mais focada na vontade de chegar a casa, cada vez mais sensível ao ruído e à luz, a dor de cabeça a aumentar. Fui atendida, pedi o jantar quase em esforço, e fiquei a aguardar, sozinha, naquele espaço.

Foi então que reparei no rapaz que me tinha atendido. Olhava para mim, talvez intrigado, talvez preocupado. Senti que ele estava a perceber que eu não estava bem e parecia hesitar sobre se devia ou não falar comigo. Em dias normais teria puxado conversa, mas naquele momento simplesmente não consegui. Fiquei ali, em silêncio.

Até que, com um sorriso tímido, ele aproximou-se:

– “É a primeira vez que vem a este restaurante?”

Respondi que não. Mais um silêncio.

– “E estava sempre tudo bom?”

Respondi que sim. Outro silêncio.

– “Já provou a nossa limonada?”

Respondi que não.

Ele olhou para mim com um sorriso mais decidido.

– “Quer experimentar? É mesmo feita por nós.”

Foi aí que o céu se abriu. Aceitei a limonada e, à medida que fui sentindo a frescura e o sabor do limão, senti-me mais leve. Era como se, naquele gesto simples, alguém tivesse cuidado de mim. Uma verdadeira poção mágica.

Cheguei a casa com a cabeça limpa, leve, sorridente, praticamente sem dor. Fiquei a pensar no impacto que aquele pequeno gesto teve no meu bem-estar. A forma como nos relacionamos, como olhamos e cuidamos do outro, pode transformar o dia de alguém, e o nosso também.

Como psicóloga, vejo todos os dias o valor da atenção e da presença genuína. Não precisamos de grandes gestos para fazer a diferença; basta estarmos atentos, disponíveis, presentes. O cuidado com o outro é também um cuidado connosco. Quando nos permitimos estar atentos, não só ajudamos quem está à nossa frente, como também cultivamos o nosso próprio bem-estar.

Por isso, deixo aqui o meu agradecimento àquele rapaz que, com sensibilidade e coragem, me ofereceu um momento de cuidado. Que esta partilha seja um lembrete: todos os dias temos a oportunidade de estar atentos a quem nos rodeia e, com pequenos gestos, contribuir para um mundo mais leve e humano.

Em busca da Felicidade (1) – “A Felicidade é algo que se multiplica quando se divide”

Fui desafiada a ir à Escola Básica e Secundária de Ermesinde fazer uma palestra sobre felicidade e bem-estar, dirigida a alunos de 12º ano. Foi com grande alegria que, ao entrar na escola, dei de caras com uma grande faixa que dizia “A felicidade é algo que se multiplica quando se divide”.

Vivemos numa era em que a informação se propaga a uma velocidade incrível, “torna-se viral”! É impressionante como tudo o que é mau se espalha depressa. É impressionante como os meios de comunicação dão mais facilmente notícia daquilo que é desgraça, do que daquilo que corre bem. É impressionante como é isso que capta mais facilmente as audiências (aparentemente).

Há uns tempos, ao percorrer uma conhecida página online de um canal televisivo de notícias português (que não o CM!) deparei-me com o facto de as primeiras notícias em destaque serem todas negativas (sobre guerras, desgraças climáticas, corrupção, troca de insultos entre políticos, violência ou outros crimes…). Foi preciso percorrer 16 títulos de notícias até chegar a um cujo conteúdo era pela positiva… Só à décima sétima é que veio uma notícia de algo positivo… Felizmente, hoje o exercício não foi tão deprimente, pois estamos numa altura em que é necessário informar os portugueses de assuntos importantes, como sobre a entrega da declaração de IRS ou sobre os candidatos dos vários partidos políticos para as listas das próximas eleições legislativas (apenas informar, sem escrutinar…), pelo que há todo um conjunto de títulos de pendor mais neutro, se quisermos (é claro que podemos sentir algo negativo ao perceber que a devolução do IRS não vai ser como esperávamos, ou ao perceber que determinado nome proposto por determinado partido traz uma data de complicações e de questões eticamente ou moralmente reprováveis…).

O que quero dizer com isto é que, como as emoções contagiam, os meios de comunicação social têm um impacto incrivelmente grande no bem-estar do público. Ouço constantemente coisas como “o mundo está doente”, “esta nova geração está perdida”, “o futuro é sombrio”, “é só desgraças”, “ninguém se preocupa com o próximo”, “vai-se andando”, “tudo na mesma”… E podia ficar aqui infinitamente, “coitadinhos”…

Mas toda a gente procura o mesmo. Perguntei aos jovens com quem fui refletir sobre felicidade o que queriam ser como adultos, que tipo de adultos gostariam de ser? E foram respondendo: quero ser bem sucedido, ter uma vida boa, ser feliz; quero ser estável, “ter saúde mental”, ter amigos e família por perto… Quem não?

E o que posso “tomar” para ser feliz? Decisões.

  • Posso decidir que conteúdos ler/ver, escolhendo aqueles que me acrescentam, que me fazem sentir bem, que me fazem crescer, que me dão energia e motivação;
  • Posso decidir estar presencialmente presente com as pessoas de quem mais gosto, sem ecrãs a distrair;
  • Posso decidir aproveitar as coisas boas da vida, como ir até praia ou andar de bicicleta;
  • Posso decidir empenhar-me mais para atingir os meus objetivos;
  • Posso decidir investir tempo em coisas que me fazem bem à saúde, como fazer exercício físico ou uma dieta saudável;
  • Posso decidir ir votar, para contribuir para a escolha dos governantes que considero serem mais capazes de liderar os destinos do nosso país;
  • Posso decidir não dar tempo de antena a personalidades que só propagam a maledicência;
  • Posso decidir não partilhar conteúdos digitais que desinformam ou induzem em erro;
  • Posso decidir dedicar uma parte do meu tempo a ajudar alguém;
  • Posso decidir contribuir para o bem-estar dos que me estão mais próximos…

E as decisões implicam escolhas e mudanças.

A felicidade não é um estado constante. Assenta numa base evolutiva, pelo que é importante irmos definindo metas e objetivos que nos possam orientar nesse caminho, com altos e baixos, avanços e recuos. É então importante que haja um equilíbrio entre o prazer imediato e um prazer mais a médio/longo prazo, inerente ao significado e ao propósito que procuramos. O prazer imediato é importante e ajuda a motivar e a seguir em frente, mas não chega por si só. É importante apreciar o caminho até chegarmos à meta, ao objetivo, construir tendo em vista um bem maior, valorizar o processo e não apenas o resultado. Assim, é então fundamental diversificarmos as fontes de prazer e satisfação, ora mais imediatas, ora mais a médio/longo prazo, sendo crucial, neste último caso, gerir a frustração e saber esperar. Ser feliz é ainda contribuir para o bem-estar dos outros e da comunidade, porque a qualidade das nossas relações dita a nossa qualidade de vida!

E a mudança tem de partir de dentro de cada um de nós!

Afinal, o que é o Amor?

O amor pode ser definido como um conjunto de diferentes emoções positivas, como alegria, interesse, contentamento, experienciadas no contexto de relações próximas e seguras, embora também se tenha que admitir que não há amor sem sofrimento. Trata-se de um sentimento composto e complexo que vai muito mais além do simples impulso romântico, envolvendo aspetos psicológicos, neurobiológicos e sociais. Não é então de admirar que o amor não seja aquele estado permanente de entusiasmo, de felicidade, de leveza a que muitas vezes se associa o amor romântico, mas antes uma construção dinâmica, intencional e contínua que requer esforço e dedicação constantes de ambas as partes.

A neurociência explica que o amor não é apenas uma construção social, mas um fenómeno bioquímico complexo. Neurotransmissores como a occitocina, a dopamina, a serotonina, o cortisol determinam a nossa experiência emocional, criando circuitos neuronais que influenciam os nossos vínculos afetivos. Esta compreensão científica não diminui a magia do amor. Pelo contrário, ajuda-nos a apreciar a sua profundidade e complexidade.

O amor é um processo que envolve múltiplas dimensões, não se tratando apenas de atração física ou paixão ardente, mas também de compromisso, cuidado mútuo e intimidade profunda. Queremos estar perto, sentirmo-nos seguros e protegidos e, quando nos separamos, sofremos. Esta vinculação (uma ligação profunda) é essencial para o compromisso e para a satisfação na relação, e um compromisso forte leva a mais intimidade. Por sua vez, o cuidado mútuo é fundamental em todos os tipos de relacionamentos (amizade, família, amor romântico). Significa que estamos atentos às necessidades do outro, com a esperança de que também faça o mesmo por nós. A vinculação e o cuidado reforçam-se mutuamente, fazendo com que nos sintamos cada vez mais próximos. E esta proximidade fortalece a vinculação, que, por sua vez, nos faz cuidar ainda mais do outro.

Aliado a este cuidado, a empatia contribui também para a interdependência relacional. E a confiança e o respeito desempenham igualmente papeis complementares e essenciais na construção de relacionamentos duradouros e satisfatórios, nomeadamente na intimidade, no comprometimento e na vinculação.

Conexão, respeito, confiança e atração são fatores que, embora possam atuar de forma independente, quando um deles é enfraquecido pode afetar negativamente os outros e o amor em si. Da mesma forma, o fortalecimento de um destes fatores influencia positivamente os outros e o amor.

O amor romântico é, então, dinâmico e, para se manter vivo, requer um investimento significativo de ambos os elementos do casal. Vai mudando conforme os acontecimentos, as circunstâncias e o ambiente em que o casal vive, bem como conforme reage a essas mudanças de forma positiva ou negativa. Ou seja, a forma como o casal lida com os desafios que surgem pode fortalecer ou enfraquecer cada um dos componentes do amor. Se estes componentes (atração, conexão, respeito, confiança) faltarem, o amor enfraquece ou até desaparece.

O amor verdadeiro constrói-se nos pequenos gestos do dia-a-dia, pelo que não são os grandes presentes ou as declarações profundas que sustentam um relacionamento, mas sim a gentileza diária, o respeito mútuo e a capacidade de escuta efetiva. É nestas pequenas interações, é quando escolhemos pô-las em prática, que o amor se fortalece e se renova.

Vivemos tempos de grandes revoluções interpessoais e que impactam muito na forma como os casais se relacionam e vivem o amor. A era digital que se impõe atualmente traz desafios inéditos, nomeadamente o facto de a ligação online permanente aproximar e distanciar simultaneamente as pessoas, criando novas dinâmicas nas relações. Enquanto constroem uma vida partilhada, as pessoas procuram manter a sua individualidade, procuram prazer pessoal e satisfazer as suas próprias necessidades. Procuram um equilíbrio entre dependência (relacional) e autonomia e tentam gerir expectativas românticas num mundo de opções aparentemente infinitas. Assim, o amor é uma arte, mas também uma ciência, e exige consciência, trabalho e compromisso. Não é algo que acontece por acaso, mas uma decisão que se toma todos os dias, no sentido de nos ligarmos ao outro, de o respeitarmos e de crescermos juntos. É importante olhar para o amor não só como um sentimento, mas como um conjunto de ações e gestos (pequenos, mas importantes) que contribuem para a atração, a conexão, o respeito e a confiança.

Acredito que, ao compreendermos e aceitarmos a complexidade do amor, podemos construir relacionamentos mais fortes, resilientes e satisfatórios. Num mundo muitas vezes marcado pela superficialidade e pelo imediatismo, a cultura do amor profundo, comprometido e duradouro é uma fonte de alegria e de realização incomparáveis. É uma construção em que vale a pena investir, pois acaba por ser uma obra1 grandiosa e que tem impacto, não só no crescimento e bem-estar individual de cada um, mas também da sociedade em geral.

1Palavra de origem latina e que indica o resultado de uma ação ou do trabalho de um ou mais autores (no âmbito das letras, ciências ou artes) e, quando considerada a melhor produção, é uma obra-prima (https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/obra).

Referências:

Tobore,T. O. (2020) Towards a Comprehensive Theory of Love: The Quadruple Theory. Front. Psychol. 11:862. doi: 10.3389/fpsyg.2020.00862

Fredrickson, B. (2021) The Role of Positive Emotions in Positive Psychology: The Broaden-and-Build Theory of Positive EmotionsAm Psychol. 2001 March ; 56(3): 218–226

“You make me feel…”

Sobre a música “(You make me feel like) A Natural Woman, de Aretha Franklin

Esta música icónica, cantada pela rainha do soul, reflete um dos pilares fundamentais de um relacionamento saudável: a capacidade de sermos nós mesmos ao lado de alguém, sem máscaras ou pretensões, e de nos podermos apoiar nessa pessoa.

É tão bonito ouvir que a música toca em pontos tão importantes como:
1. Autenticidade: A capacidade de ser quem realmente somos junto ao nosso par.
2. Reconhecimento: A gratidão expressa ao outro pelo seu papel positivo na nossa vida.
3. Transformação positiva: Como um amor verdadeiro pode ajudar-nos a florescer e a sentirmo-nos mais conectados com a nossa própria natureza.
4. Segurança emocional: O sentimento de conforto e de pertença que um relacionamento saudável proporciona.

A mensagem da letra desta música (engrandecida pela melodia em si) pode ser uma ode aos relacionamentos duradouros, refletindo a importância da capacidade de nos sentirmos aceites e valorizados pelo que realmente somos, criando um ambiente de apoio mútuo onde ambos podemos crescer individualmente e como casal. A música começa por descrever um estado de espírito anterior ao amor, um sentimento de estar perdida, sem direção. Entretanto, a descoberta do amor permite um despertar, uma renovação. Não é apenas sobre sentir-se amada, mas sobre como esse amor permite que a pessoa se sinta genuinamente ela mesma, uma “mulher natural”. Esta é uma das mais belas expressões do que um amor verdadeiro pode fazer: permitir-nos ser nós próprios e livres nessa expressão de autenticidade.

Tal como diz a letra, não é sobre o que “tu me fazes ser”, mas sim como “tu me fazes sentir”. Ou seja, a essência da pessoa já existe e o amor apenas ajuda a redescobri-la e a voltar a conectar-se com ela.

O amor verdadeiro e comprometido permite crescimento pessoal e autodescoberta, é um amor que liberta e fortalece, em vez de nos fechar em nós próprios.

Esta música é uma celebração do amor!

As três entidades do Amor: cuidar do Eu, do Outro e do Relacionamento

A importância de cuidar de si próprio, do outro e do relacionamento é fundamental para a saúde emocional e para a longevidade do casal. Ao falar de relacionamentos, identificamos três entidades essenciais: a pessoa, o seu par e o relacionamento em si. Cada uma destas requer atenção e investimento para que a dinâmica amorosa se mantenha saudável e resistente às adversidades.

O primeiro passo é cuidar de si mesmo. Cada elemento do casal deve reconhecer as suas próprias necessidades emocionais e físicas, reconhecer as suas potencialidades e também os aspetos a melhorar, procurando crescimento pessoal e autocuidado. Para isto, é necessário desenvolver autoconhecimento que, não só melhora o bem-estar individual, como também fortalece a capacidade de contribuir para a relação.

Cuidar do outro implica estar atento às suas necessidades e sentimentos. O compromisso de ouvir, apoiar e validar as experiências do outro é fundamental e proporciona uma conexão mais profunda. É importante que cada um se sinta seguro para expressar as suas vulnerabilidades, se sinta amado e valorizado, sabendo que o outro está ali, disponível para escutar e para oferecer suporte.

Por último, cuidar do relacionamento como uma entidade própria envolve dedicar tempo e esforço para alimentar a conexão entre o casal através, por exemplo, de momentos de qualidade juntos, de comunicação aberta, da predisposição para resolver conflitos de maneira construtiva. É fundamental que ambas as pessoas se comprometam a zelar pela “saúde” do relacionamento, que pode ser comparado com um organismo humano, composto por um conjunto de sistemas interligados. Cada um desses sistemas — como a comunicação, a expressão de emoções e a resolução de conflitos — desempenha um papel essencial na manutenção do bem-estar do casal.

O compromisso mútuo em cuidar e investir nestas três áreas — em si mesmo, no outro e na relação — é o que permite que um casal resista às dificuldades. Assim como o corpo humano requer cuidados constantes para funcionar adequadamente, o relacionamento também precisa de atenção regular para crescer de forma saudável. Quando ambos os elementos do casal se dedicam a cuidar da sua própria saúde emocional e física, bem como a apoiar o bem-estar do outro, criam um ambiente propício ao crescimento e à felicidade mútua. Além disso, é importante que priorizem também o relacionamento e lhe dediquem tempo (tal como na carreira profissional, para se evoluir e crescer no relacionamento é preciso tempo, dedicação e aprendizagem; se não se faz este investimento e priorização, o relacionamento estagna ou até perde valor e significado).

Finalmente, é importante reconhecer que o tempo e o ritmo de cada um podem não coincidir. Às vezes é um que está mais disponível ou motivado para puxar pela relação, outras vezes é o outro. O importante é que ambos estejam dispostos a cuidar um do outro e também a permitir que o outro cuide deles. Esta reciprocidade é vital para fortalecer a segurança e os laços emocionais e para garantir que o relacionamento resista às adversidades. Assim, cada pessoa deve assumir a responsabilidade pela sua parte nesta equação e, ao cuidar ativamente destas três entidades, os casais constroem uma base sólida para um amor duradouro e significativo.  É nesta dedicação mútua que assenta a verdadeira essência dos relacionamentos: a capacidade de crescer juntos, de enfrentar desafios lado a lado e de celebrar cada pequena vitória com gratidão.