Fui desafiada a ir à Escola Básica e Secundária de Ermesinde fazer uma palestra sobre felicidade e bem-estar, dirigida a alunos de 12º ano. Foi com grande alegria que, ao entrar na escola, dei de caras com uma grande faixa que dizia “A felicidade é algo que se multiplica quando se divide”.
Vivemos numa era em que a informação se propaga a uma velocidade incrível, “torna-se viral”! É impressionante como tudo o que é mau se espalha depressa. É impressionante como os meios de comunicação dão mais facilmente notícia daquilo que é desgraça, do que daquilo que corre bem. É impressionante como é isso que capta mais facilmente as audiências (aparentemente).
Há uns tempos, ao percorrer uma conhecida página online de um canal televisivo de notícias português (que não o CM!) deparei-me com o facto de as primeiras notícias em destaque serem todas negativas (sobre guerras, desgraças climáticas, corrupção, troca de insultos entre políticos, violência ou outros crimes…). Foi preciso percorrer 16 títulos de notícias até chegar a um cujo conteúdo era pela positiva… Só à décima sétima é que veio uma notícia de algo positivo… Felizmente, hoje o exercício não foi tão deprimente, pois estamos numa altura em que é necessário informar os portugueses de assuntos importantes, como sobre a entrega da declaração de IRS ou sobre os candidatos dos vários partidos políticos para as listas das próximas eleições legislativas (apenas informar, sem escrutinar…), pelo que há todo um conjunto de títulos de pendor mais neutro, se quisermos (é claro que podemos sentir algo negativo ao perceber que a devolução do IRS não vai ser como esperávamos, ou ao perceber que determinado nome proposto por determinado partido traz uma data de complicações e de questões eticamente ou moralmente reprováveis…).
O que quero dizer com isto é que, como as emoções contagiam, os meios de comunicação social têm um impacto incrivelmente grande no bem-estar do público. Ouço constantemente coisas como “o mundo está doente”, “esta nova geração está perdida”, “o futuro é sombrio”, “é só desgraças”, “ninguém se preocupa com o próximo”, “vai-se andando”, “tudo na mesma”… E podia ficar aqui infinitamente, “coitadinhos”…
Mas toda a gente procura o mesmo. Perguntei aos jovens com quem fui refletir sobre felicidade o que queriam ser como adultos, que tipo de adultos gostariam de ser? E foram respondendo: quero ser bem sucedido, ter uma vida boa, ser feliz; quero ser estável, “ter saúde mental”, ter amigos e família por perto… Quem não?
E o que posso “tomar” para ser feliz? Decisões.
- Posso decidir que conteúdos ler/ver, escolhendo aqueles que me acrescentam, que me fazem sentir bem, que me fazem crescer, que me dão energia e motivação;
- Posso decidir estar presencialmente presente com as pessoas de quem mais gosto, sem ecrãs a distrair;
- Posso decidir aproveitar as coisas boas da vida, como ir até praia ou andar de bicicleta;
- Posso decidir empenhar-me mais para atingir os meus objetivos;
- Posso decidir investir tempo em coisas que me fazem bem à saúde, como fazer exercício físico ou uma dieta saudável;
- Posso decidir ir votar, para contribuir para a escolha dos governantes que considero serem mais capazes de liderar os destinos do nosso país;
- Posso decidir não dar tempo de antena a personalidades que só propagam a maledicência;
- Posso decidir não partilhar conteúdos digitais que desinformam ou induzem em erro;
- Posso decidir dedicar uma parte do meu tempo a ajudar alguém;
- Posso decidir contribuir para o bem-estar dos que me estão mais próximos…
E as decisões implicam escolhas e mudanças.
A felicidade não é um estado constante. Assenta numa base evolutiva, pelo que é importante irmos definindo metas e objetivos que nos possam orientar nesse caminho, com altos e baixos, avanços e recuos. É então importante que haja um equilíbrio entre o prazer imediato e um prazer mais a médio/longo prazo, inerente ao significado e ao propósito que procuramos. O prazer imediato é importante e ajuda a motivar e a seguir em frente, mas não chega por si só. É importante apreciar o caminho até chegarmos à meta, ao objetivo, construir tendo em vista um bem maior, valorizar o processo e não apenas o resultado. Assim, é então fundamental diversificarmos as fontes de prazer e satisfação, ora mais imediatas, ora mais a médio/longo prazo, sendo crucial, neste último caso, gerir a frustração e saber esperar. Ser feliz é ainda contribuir para o bem-estar dos outros e da comunidade, porque a qualidade das nossas relações dita a nossa qualidade de vida!
E a mudança tem de partir de dentro de cada um de nós!