Numa época em que as relações enfrentam ritmos acelerados e múltiplas exigências, o que distingue os casais emocionalmente resilientes?
Tal como nas fotografias que partilho (a primeira tirada pela Luísa Gonçalves da Costa e a segunda tirada por mim), há dias cheios de sol e outros de tempestade. Casais robustos são aqueles que, mesmo nos dias difíceis, não deixam que o mau tempo se instale para sempre no seu relacionamento. Enfrentam as tempestades lado a lado, com segurança e confiança de que o sol há de voltar (porque, na verdade, o “boletim meteorológico” da sua relação costuma apresentar céu limpo e brisa fresca).
Curiosamente, “Casais Robustos” também é o nome de uma aldeia do distrito de Santarém localizada numa encosta da Serra de Aire, pertencente à freguesia de Moitas Venda, Município de Alcanena e é parte integrante do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (para os mais curiosos, conheçam a sua origem em https://pt.wikipedia.org/wiki/Casais_Robustos). Ao passar por lá (só fotografámos à saída…), lembrei-me de casais robustos que conheço, pessoal e profissionalmente, e do esforço diário que fazem para o ser.
Mas afinal, o que é ser um casal robusto?
É ter um vínculo seguro, ou seja, aproveitar os momentos de bonança e, ao mesmo tempo, aguentar as tempestades sem abandonar o barco. É respeitar as diferenças, ficar um ao lado do outro mesmo quando há algum distanciamento e, acima de tudo, garantir que não se instala o desligamento emocional. Quando sentimos que o outro nos ama e nos valoriza, conseguimos atravessar qualquer tempestade.
No fundo, todos procuramos o mesmo: sentir-nos amados pelo que somos e reconhecidos pelo que fazemos. Quando isso falha, erguemos barreiras e recorremos a reações de autoproteção (afastamo-nos, reagimos em excesso ou ficamos sem ação) para não sentirmos rejeição ou abandono. No entanto, ao fecharmo-nos, cortamos precisamente a conexão de que mais precisamos.
Casais próximos e conectados emocionalmente são aqueles que compreendem os medos e as necessidades um do outro e procuram atendê-las. Dizer “preciso de atenção”, “preciso de espaço” ou “preciso de sentir segurança” é essencial e, quando estas necessidades são atendidas, o casal permanece próximo e seguro. Contrariamente, quando não são atendidas, surgem os comportamentos de protesto (como queixas, críticas, silêncios), que são sinais claros de pedidos não ouvidos. Esta ligação constrói-se no dia-a-dia, na forma como falam, como se comportam e até na forma como pensam um no outro.
Muitas das nossas necessidades emocionais de adultos têm origem na forma como fomos cuidados na infância. A teoria da vinculação mostra que, se crescemos a acreditar que emoções eram fraqueza ou que tínhamos de enfrentar dificuldades sozinhos, é provável que, em adultos, evitemos falar sobre o que sentimos. Fechamo-nos como defesa, mas o outro pode interpretar isso como desinteresse ou afastamento. Pelo contrário, quem cresceu a sentir-se ouvido e protegido aprende a procurar o outro em situações difíceis (para falar, partilhar, pedir presença). Porém, quando esta procura se torna intensa, o outro pode sentir-se invadido e acabar por recuar, deixando-nos com sentimentos de rejeição ou incompreensão.
Casais robustos não são casais sem conflitos. São aqueles que acreditam que, mesmo nos momentos difíceis, o outro vai estar lá para responder às suas necessidades. Mesmo que haja distância ou desencontros, confiam que vão reencontrar o caminho. E, quando falham, conseguem pedir desculpa, reparar e reconstruir a ligação. Ser casal robusto não é viver sem tempestades, mas ter a certeza de que, juntos, conseguem atravessá-las.











