O tipo de experiências repetidas proporcionado pelas figuras de vinculação à criança tem impacto no seu desenvolvimento e da sua personalidade, na medida em que vai influenciar a construção da imagem de si própria e do mundo, a regulação das emoções e o desenvolvimento de competências cognitivas, de autoconfiança e de resolução de problemas, entre outras. A qualidade da relação e da interação da criança com a figura parental, e consequentemente a qualidade do vínculo, é influenciada por diversos fatores, nomeadamente pelo ambiente familiar, pelas características individuais da criança e dos pais, entre outros.
O desenvolvimento da criança não é linear, pelo que o que é adequado e importante assegurar hoje, não é necessariamente o mais ajustado daqui a um ou dois anos. O tempo da criança não é o tempo dos pais. E o tempo de cada um dos pais também difere.
A separação/divórcio é um dos maiores causadores de stress e de sofrimento na vida de uma pessoa. É importante que cada um tenha oportunidade de fazer o seu luto, de se adaptar à nova condição, de se reorganizar. São processos individuais e dolorosos e muitas vezes implicam o recurso a ajuda profissional, sendo fundamental que pai e mãe respeitem o processo de luto um do outro, adotando uma atitude de cooperação no que respeita aos filhos. No caso de se decidir por uma residência alternada, é fundamental que haja a confiança e o apoio um do outro para que os cuidados à criança sejam prestados por ambos os pais de forma adequada, cada um à sua maneira, na sua casa. Além disso, é necessário não esquecer o processo de luto da criança, que também tem o seu próprio ritmo e especificidades, sendo fundamental que se sinta segura, amada e protegida por ambos os pais.
O exercício da parentalidade em contexto de conflito é dificultada principalmente pela carga emocional negativa existente entre os pais. Se não tivessem filhos em comum, a separação/divórcio podia implicar um corte definitivo entre ambos, não havendo necessidade de falar um com o outro novamente (a partir do momento em que o processo de divórcio ficasse resolvido). No entanto, havendo filhos em comum, esse corte definitivo, e assumindo que o melhor para a criança é continuar a ter ambos os pais na sua vida, o ex-casal tem necessariamente de manter uma relação. Relação esta que deverá ser exclusivamente motivada pelas responsabilidades parentais e pela relação pai-filhos/mãe-filhos. A dificuldade é não permitir que a carga emocional negativa, que agora é menos tolerável do que quando tinham um projeto de vida em conjunto, interfira na relação parental que deverão manter. Os pais divorciam-se, mas as crianças não se divorciam dos pais, passando a ser o (único) elo de ligação entre ambos.